Quando os portugueses chegaram ao que hoje se conhece como Brasil, não encontraram o ouro e a prata tão sonhados no Velho Continente, nem reinos perdidos habitados por ciclopes e figuras que assinalavam a força que o paganismo ainda exercia na mentalidade dos povos fervorosamente cristãos da Península Ibérica. Mas assim como os espanhóis - oito anos antes - a frota comandada por Pedro Álvares Cabral encontrou um Novo Mundo. Assim como testemunhado por Pero Vaz de Caminha, esse Novo Mundo era habitando por homens e mulheres pardos, que andavam nus e que não se importavam em cobrir suas vergonhas.
A diferenciação dos
Índios pelo Portugueses
Os indígenas que habitavam a “recém descoberta portuguesa”
eram muito mais diversos do que os lusitanos haviam imaginado. Após os contatos
iniciais, os colonos portugueses acabaram fazendo uma distinção da população
indígena em dois grandes grupos.
Ao descrever os aimorés (um dos tantos povos classificados
como tapuias), o português Gabriel Soares de Souza disse: “Descendem estes
aimorés de outros gentios a que chamam tapuias, dos quais nos tempos de atrás
se ausentaram certos casais, e foram-se para umas serras mui ásperas, fugindo a
um desbarate, em que os puseram seus contrários, onde residiram muitos anos sem
verem outra gente; e os que destes descenderam, vieram a perder a linguagem e
fizeram outra nova que se não entende de nenhuma outra nação do gentio de todo
este Estado do Brasil” Gabriel Soares de Souza, Tratado descritivo do Brasil,
1587, pp.78-79.
Dentre os tupi-guaranis, a sociedade tupinambá acabou
tornando-se uma das mais conhecidas, graças ao intenso contato com os
portugueses durante os séculos XVI e XVII. O historiador Stuart Schwartz
salientou que os tupinambás viviam em aldeias que possuíam de quatrocentos a oitocentos
indivíduos. Tais aldeias eram divididas em unidades familiares que viviam em
até oito malocas. As unidades familiares, por sua vez, estavam estruturadas
pelo parentesco familiar e obedeciam à divisão sexual do trabalho: grosso modo,
aos homens cabia as atividades de caça, pesca e de guerra, e às mulheres o
cuidado com a agricultura e com a casa.
A agricultura era uma prática que diferenciava os tupinambás
dos demais povos tupi-guaranis. Para preparar o solo para a semeadura, os
tupinambás desenvolveram uma técnica que rapidamente foi incorporada pelos
colonos portugueses: a coivara.
Coivara: Essa
técnica consistia na abertura de clareiras em determinadas áreas florestais,
que em seguida eram queimadas. As cinzas resultantes desse processo eram
utilizadas como fertilizantes do solo que, em seguida, era semeado pelas
mulheres da aldeia. Dentre os gêneros cultivados estavam o feijão, milho,
abóbora, algumas frutas e, principalmente, a mandioca - base da alimentação
tupinambá e, mais tarde, de toda a colônia.
Outra característica marcante dos tupinambás era seu ímpeto
guerreiro. A guerra tinha funções econômicas e simbólicas para esse povo, na
medida em que viabilizava a obtenção de prisioneiros de guerra e a ampliação
territorial, além de criar uma intricada rede de status que definia diversos
aspectos da vida em sociedade, sobretudo os matrimônios.
Junto com a guerra, os tupinambás praticavam o canibalismo
ritual que causou horror e curiosidade aos colonos portugueses. Baseado na
cosmogonia tupinambá, o canibalismo era um ritual antropofágico, no qual o
inimigo prisioneiro de guerra era (depois de uma iniciação), morto pela
sociedade vitoriosa, e tinha suas partes distribuídas dentre os indivíduos do
grupo vencedor. A ideia era se alimentar (simbolicamente) das características
do oponente.
Praticada por várias tribos nas Américas, a cerimônia
antropofágica tupinambá se tornou um “sucesso” mundial com os relatos do alemão
Hans Staden, que viveu de 1553 a 1555 com esse povo e quase foi devorado por
ele. À época do Descobrimento, os tupinambás habitavam todo o litoral, desde o
Pará até São Paulo. E, nas muitas guerras que disputavam, transformavam em
iguarias os índios, os mamelucos e os brancos que capturavam. Para os nativos,
ser comido era uma honra reservada a guerreiros. Mas, aos olhos dos
colonizadores europeus, nada poderia ser tão diabólico.
Como sugerido há pouco, traçar padrões culturais e sociais
dos tapuias é uma tarefa muito difícil, na medida em que eles não formavam um
grupo que se identificava como tal. Estudos recentes apontam que os tapuias
pertenciam a diferentes troncos linguísticos, ou seja: eles eram os
“não-tupis”, o que significa que eles eram muitas coisas. Um dos povos tapuias
mais estudados é o aimoré devido à frequente resistência imposta ao aldeamento
e catequese portuguesa. Pertencentes ao grupo etnográfico jê, os aimorés,
também conhecidos como botocudos, habitavam o que hoje é o estado do Espírito
Santo e o Sul da Bahia.
Eram seminômades, praticavam a agricultura itinerante e
tinham uma vida bélica muito desenvolvida, o que só se intensificou com a
chegada dos portugueses. A relação entre colonos e aimorés foi tão estremecida
que, além de protagonizarem uma das mais importantes rebeliões indígenas da
história brasileira (a Confederação dos Tamoios), os aimorés como todos os
indígenas que recusassem a catequese estavam sujeitos à escravidão por guerra
justa, de acordo com a lei promulgada pela Coroa portuguesa em 1570.
Seminômades:
Relativo a tribo ou povo que migra periodicamente, vivendo geralmente em
moradias portáteis ou temporárias, mas possuindo um terreno onde pratica
pequena agricultura. Membro de uma dessas tribos ou povos.
A inocência e a ausência de elementos fundamentais que – na
perspectiva europeia – balizavam a noção de civilização marcaram os primeiros
escritos sobre os índios. A despreocupação com a nudez foi reiterada diversas
vezes na Carta de Pero Vaz de Caminha, indicando que esses homens e mulheres
andavam nus por lhes faltarem a ideia de vergonha. O mesmo Caminha, assim como
Vespucci e, mais tarde, Gândavo e Gabriel Soares de Souza ficaram surpresos com
o fato dos tupis não terem em seu alfabeto as letras F, L e R. Segundo esses homens, essa ausência era a
comprovação de que os índios viviam sem Justiça e na maior desordem, pois:
A Catequização dos Índios
As constatações apontadas na tela anterior serviram como
norte para a atuação dos religiosos europeus. Se por um lado a Coroa portuguesa
só passou a se importar efetivamente com sua colônia americana a partir de
1530, desde os primeiros anos de contato diversos religiosos, sobretudo os
jesuítas, iniciaram um intenso trabalho com os grupos indígenas que ficou
conhecido como catequese. Num primeiro momento, os jesuítas visitavam as
aldeias a fim de conhecer um pouco mais a cultura, hábitos e língua dos índios,
aproveitando a oportunidade para fazer pregações e alguns batismos.
Feito o contato inicial, os jesuítas passaram para o segundo
estágio da catequese: a conversão, propriamente dita, dos índios. Para tanto,
os missionários organizaram os povos indígenas em aldeamentos. O objetivo
principal era incutir nesses índios valores e práticas europeias. Desse modo,
os índios aldeados além de batizados, também recebiam os primeiros ensinamentos
católicos, além de ler e escrever.
Segundo os jesuítas, o aldeamento era fundamental, pois
apenas essa estrutura permitia que os índios, de fato, tivessem um contato
sistemático com os preceitos cristãos. O padre Manoel da Nóbrega foi um dos que
defendeu abertamente os aldeamentos, pois, segundo ele os índios eram tão instáveis
que, com a mesma facilidade que eram convertidos, logo voltavam para “sua
rudeza e bestialidade”. (Padre Manoel da Nóbrega). Para facilitar a
aprendizagem, muitos jesuítas recorreram às encenações teatrais, o que deu
origem a um dos primeiro gêneros literários do Brasil.
Nos aldeamentos, os índios ainda eram treinados para exercer
ofícios como tecelões, carpinteiros e ferreiros. Depois do treino, muitos iam
trabalhar para colonos sob a tutela dos jesuítas - que eram responsáveis,
inclusive, pela definição do pagamento dos índios aldeados. Em muitos casos, os
aldeamentos acabavam se transformando em pequenas unidades econômicas, cuja
principal mão-de-obra era a indígena. Após a missa, muitos índios iam trabalhar
na lavoura que garantia a subsistência de todos. Os aldeamentos também tinham
como objetivo acabar com a poligamia indígena e com a liberdade sexual que
existia em diferentes sociedades, incutindo o modelo cristão de família.
Como a preocupação maior era a conversão dos índios, os aldeamentos recebiam indivíduos dos mais diferentes grupos e sociedades. Dessa convivência surgiu a língua geral (baseada no tupi) que durante muitos anos foi a mais falada em toda a colônia. Esse convívio mais intenso também possibilitou um conhecimento mais aprofundados dos povos indígenas.
Referências Bibliográficas
Aula 1 da disciplina
História dos Povos Indígenas e Afrodescendentes – Estácio de Sá
http://www.terrabrasileira.com.br/indigena/cotidiano/420agricul.html
Nosso conhecimento torna-se precioso quando o tornamos algo acessível para todos.
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